Todas nós sabemos que as prescrições dietéticas têm sido extensamente exploradas e recomendadas como estratégia para perda de peso, visando controlar a ingestão de energia e de determinados nutrientes, e adotadas na prática clínica de muitos profissionais e pesquisadores. E a justificativa é sempre que estamos em uma epidemia mundial de obesidade e doenças crônicas na população.
Mas, analisando historicamente, a prática de dieta para atingir um corpo magro é milenar, especialmente no universo feminino. A valorização e a obsessão pela magreza, bem como a gordofobia e seus desdobramentos, são questões fortemente reforçadas pela sociedade, e principalmente, pela indústria da beleza, especialista em cultivar o sentimento de inadequação e feiúra nas pessoas.
E esse quadro se agrava com a fusão da indústria da estética, de alimentos e farmacêutica, que resulta em práticas comerciais, midiáticas e sociais que afetam negativamente a forma como as pessoas têm se relacionado com a comida e com o corpo.
Apesar do investimento de alguns setores da saúde e políticas públicas, o que a gente vê é adoecimento generalizado e piora na qualidade de vida da população, porque os modos de vida modernos de supervalorização da produtividade, cobrança de excelência no âmbito do trabalho e escolar e acúmulo de múltiplos papéis, estão resultando em menos tempo de lazer, de descanso e de conexão com as pessoas. Assim, a piora significativa da saúde física está intimamente ligada com a piora exponencial da saúde mental e com a criação e manutenção de comportamentos disfuncionais, inclusive o alimentar.
E é essa contextualização, sobre a história das dietas e sobre como as pessoas seguem adoecidas e ganhando peso, que abre as portas para a gente debater acerca da efetividade da abordagem prescritiva da nutrição na prevenção e cuidado da obesidade e comorbidades. Será que as dietas têm de fato produzido efeitos positivos?
Os estudos que tentam apoiar os resultados otimistas das dietas no emagrecimento, são conduzidos por um curto espaço de tempo, cerca de 6 meses, e terminam sem avaliar o que acontece com os participantes em longo prazo. Na prática, o que os bons profissionais vêem é que as pessoas não conseguem sustentar a rotina de dietas e não atingem os resultados esperados, gerando sensação de fracasso e culpa.
Quero concluir essa reflexão dizendo que a utilização do peso corporal como único indicador de sucesso das das intervenções dietéticas e de saúde, é equivocada. O foco deveria ser a qualidade da alimentação, o comportamento alimentar, a qualidade de vida e bem-estar das pessoas, alinhados com um conceito de saúde amplo, que inclui o mental e o social, com promoção de autonomia alimentar.